22 de maio de 2018

Fórum Lixo e Cidadania: catadores da Acamares expõem insatisfação com prefeitura de Sarzedo

Foto: Diego Cota/Redesol MG

Construir um espaço democrático para discutir a situação da gestão dos resíduos sólidos e buscar soluções conjuntas para enfrentar os problemas. Com esse objetivo, a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Sarzedo (Acamares), filiada da Cooperativa Central Rede Solidária dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Minas Gerais (Redesol MG), promoveu o Fórum Regional Lixo e Cidadania de Sarzedo e Mário Campos, na sexta-feira (18/05), no Centro de Referência da Pessoa Idosa de Sarzedo.

Em sua segunda edição, foi colocado aos participantes o descontentamento dos trabalhadores da associação com a falta de compromisso do executivo sarzedense em atender demandas básicas para realização do serviço. “Somos uma das melhores cidades da região metropolitana, mas isso não reflete no trabalho dos catadores. É uma vergonha para o município de Sarzedo”, disse a presidente da Acamares, Marli Beraldo.

“A gente espera uma efetivação da política pública, a gestão dos resíduos sólidos, que hoje não é consolidada no município”, apontou. No início do ano, foi implantada a coleta seletiva municipal, que, a princípio, disponibiliza o serviço nos prédios públicos e para o comércio. Segundo a catadora da Acamares, Ludmila Rodrigues da Silva, esse fato não trouxe mudança para o empreendimento.

Ela revela que, desde então, o material no galpão está pouco. Além disso, parte do que recebem junto com o reciclável são inapropriados para comercialização. “A expectativa era que melhorasse a quantidade de material depois da implantação da coleta, mas não foi isso que aconteceu. Tem muitos que já desanimaram, porque a renda que tiramos lá não dá para manter uma família”, explicou Ludmila.

Além de a situação ser negativa para a geração de renda, Marli releva que o fato influencia no trabalho como um todo. Nesse momento, a associação aguarda o cumprimento, por parte da prefeitura, de um convênio. “A coleta ainda não impactou na renda. A gente está esperando uma resolução da parceria de fomento entre prefeitura e Acamares, que visa a mudança para um galpão que dê estrutura de trabalho com dignidade”, disse.

Foto: Diego Cota/Redesol MG

A presidente da Redesol MG, Ivaneide da Silva Souza, cobrou do município, representado pelo secretário de meio ambiente, a garantia de uma remuneração digna ao grupo, já que o volume recebido por meio da coleta seletiva municipal não é suficiente para alcançar uma renda justa. “Vemos muitas pessoas boas na associação que acreditam nesse negócio, mas que infelizmente, por questão de sobrevivência, são obrigadas a sair”, lamentou.

“A gente vem buscando a contratação dos catadores. É uma pauta que tem avançado nos municípios da região metropolitana. É importante porque temos dificuldades de garantir uma renda mínima, de cerca de um salário mínimo, com o volume de material nos galpões. Nosso objetivo é encontrar caminhos para melhorar a qualidade de vida dos catadores”, completou Ivaneide.

Foto: Diego Cota/Redesol MG

O fórum contou com a presença dos catadores da Acamares, comunidade local, Redesol MG, Programa Novo Ciclo, ONG Natureza Viva, vereadores locais, representantes das prefeituras de Sarzedo, Mário Campos e Ibirité. Houve apresentação do grupo da terceira idade do Centro de Referência da Pessoa Idosa, que descontraiu o público.

Investir na coleta seletiva beneficia o município


A coleta seletiva, aliado ao trabalho dos catadores, se torna cada vez mais um serviço essencial. O bom diálogo entre as partes, prefeitura e trabalhador, tem a capacidade de proporcionar avanços necessários na busca pelo desenvolvimento sustentável. Entretanto, antes de pensar no fim positivo proporcionado pela atividade, é preciso valorizar os catadores, por meio da inclusão produtiva.

Durante o fórum, o diretor do Departamento de Projetos Ambientais da Prefeitura de Ibirité, Gilvando Elen de Oliveira, contou um pouco da experiência positiva da cidade vizinha, aliado ao tratamento digno. “Com o apoio financeiro da gestão municipal, o catador tem o suporte que vai animar ele a executar o trabalho. Tendo as despesas garantidas pelo município, sobra só o papel de fazer a triagem para retirar sua renda”, disse.

Foto: Diego Cota/Redesol MG

Além do cuidado ambiental com os resíduos sólidos, que é de responsabilidade do município garantir à população, investir em práticas sustentáveis trazem benefícios para as contas públicas, como destacou Gilvando. “Esse trabalho evita que muitas toneladas de materiais sejam enterradas nos aterros. O executivo acaba economizando ao fazer o serviço de coleta seletiva”, revelou.

Para o integrante da ONG Natureza Viva, Washington Alves dos Santos, o caso de Sarzedo é problemático, porque a cidade tem uma das maiores rendas per capita da região, mas não investe no serviço. Com essa situação, ele aponta a necessidade de exigir constantemente uma atuação favorável da prefeitura. “Não faz sentido não investir na coleta seletiva. Acredito que o desafio seja enorme, pois é preciso pressionar o poder público por meio de redes de entidades articuladas”, disse.

Foto: Diego Cota/Redesol MG

Foto: Diego Cota/Redesol MG