Diálogo com catadoras e catadores foi base do diagnóstico realizado (Foto: Divulgação/Unicicla) |
A Cooperativa Central Rede Solidária dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Minas Gerais (Redesol MG) conta ao leitor sobre a iniciativa Projeto Cuidar, desenvolvida pela rede global WIEGO (Mulheres no Emprego Informal: Globalizando e Organizando) em alguns dos empreendimentos filiados, em 2017, com o objetivo de diagnosticar a saúde ocupacional dos catadores.
O projeto teve como objetivo analisar a saúde, os riscos e problemas enfrentados no local de trabalho e como os trabalhadores lidam com eles. Serviu como um processo de levantamento de informações e um momento de reflexão coletiva, por meio da troca de informações entre os cooperados e equipe.
De acordo com a presidente da Redesol MG e da Comunidade Associada para Reciclagem de Materiais da Região da Pampulha (Comarp), Ivaneide da Silva Souza, a iniciativa conseguiu cativar os participantes. “Eu percebi o envolvimento deles, participando e gostando. Inicialmente achei que o projeto teria muitas dificuldades com a contribuição dos cooperados, mas percebemos que eles estão preocupados com a saúde e em melhorar a forma de trabalho”, revelou.
A atividade desenvolvida pelos trabalhadores com materiais recicláveis, seja catador de rua ou de empreendimentos de triagem, requer esforço constante. Se realizado de forma que não contempla a ergonomia, de médio a longo prazo o corpo vai sofrer consequências, como dores e desconfortos. Esse foi um dos pontos abordados pela equipe do projeto no diagnóstico.
A participação na iniciativa proporcionou algo inédito para a catadora da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Nova União (Unicicla), Alaíde Soares. “Achei legal, porque foi a primeira vez que alguém nos deu esse tipo de atenção. Eu não tinha conhecimentos dos riscos que eu poderia correr no local de trabalho”, contou.
Equipe do projeto com as catadoras da Ascar, de Raposos (Foto: Reprodução) |
Para a catadora da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Raposos (Ascar), Maria de Fátima Silva, a participação fomentou o desejo de se dedicar mais às questões envolvendo a saúde. “Essa iniciativa muda nosso senso de segurança no dia a dia. Dá mais tranquilidade, porque a atenção com a saúde passa a ser algo contínuo”, disse.
Segundo o Diretor Geral da Unicicla, Anderson Viana, os associados aprovaram o projeto. “Para nós é importante porque fez um diagnóstico de toda a situação e condições de saúde da associação. Eles se sentiram acolhidos. Foi um avanço para o empreendimento”, disse.
O Projeto Cuidar
Resultados foram apresentados durante realização do IV Encare, em 2017 (Foto: Diego Cota/Redesol MG) |
A iniciativa foi desenvolvida pelas coordenadoras Sonia Dias e Ana Carolina Ogando, e pelas pesquisadoras Fabiana Goulart e Juliana Gonçalves. Ela surgiu em 2012 do grupo de discussão das mulheres que participavam do Projeto Gênero e Lixo, parceria entre a WIEGO, Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (Insea), Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (NEPEM), da UFMG, com o intuito de abordar a saúde da mulher.
Segundo as coordenadoras, a demanda pela atenção à saúde dos catadores surgiu durante a participação em encontros da Redesol MG. Interesse esse que é comum com os objetivos dos programas de Proteção Social e Políticas Urbanas da WIEGO, que visa diagnosticar os desafios e riscos de saúde que catadoras e outras trabalhadoras informais enfrentam no mundo.