Foto: Diego Cota/Redesol MG |
A Coopersoli surgiu de um problema comum enfrentado por mães e mulheres moradoras de bairros periféricos da região do Barreiro, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Muitas delas solteiras e com filho para criar, tinham dificuldades de inserção no mercado de trabalho e encontraram no trabalho organizado e solidário uma oportunidade de empoderamento e de se desenvolverem economicamente.
A catadora cooperada Silvana Assis Leal conta que a formação do grupo começou com a organização das famílias em busca de moradia. “A campanha da fraternidade de 1993 tinha o tema ‘Onde moras?’. Então os padres de cada região começaram a mapear as famílias de baixa renda que não tinham moradia e as organizaram. No bairro Santa Cecilia, onde eu morava, comecei a participar das reuniões e ajudar na organização”, disse.
No final de 1999, Silvana conquistou sua moradia própria, em um conjunto habitacional localizado no bairro Itaipu. Segundo ela, assim que as famílias mudaram para o conjunto, elas sentiram a necessidade da geração de renda. “Nossos filhos eram pequenos e nós não tínhamos condições de sair pra trabalhar. A gente queria criar um negócio para ter renda”, afirmou.
Foto: Reprodução/Coopersoli-Barreiro |
Antes da formação da Coopersoli, a catadora Elis Regina Martins Silvério conta que as trabalhadoras já realizavam, em conjunto, o trabalho com garrafas pet. Foi o primeiro negócio solidário criado com intuito de gerar renda. “No Itaipu, a gente coletava garrafas pet para fazer moldes para vassouras”, revelou. Na época, o pet representava um problema para Belo Horizonte devido ao descarte indevido do material na cidade.
A primeira experiência não foi rentável, como revelou Silvana, mas foi aí que surgiu a possibilidade de trabalhar com a gestão de resíduos. “A gente fez a primeira venda com muita expectativa, mas deu R$ 5 para cada uma. Foi aí que a gente começou a buscar outros parceiros. Descobrimos que a prefeitura tinha construído um galpão pensando em mexer com reciclagem. A gente achou interessante”, disse.
Para a formação do grupo associado de recicladores, que hoje é a Coopersoli, a Prefeitura de Belo Horizonte abriu um cadastro para os interessados em participar do processo de seleção. Foi dada a preferência para mães de família que moravam nos bairros Itaipu, Columbiara, Independência e Jatobá IV. O grupo inicial que formou a cooperativa era composto por 47 pessoas.
Marli dos Santos Miguel é uma das catadoras fundadoras da Coopersoli (Foto: Diego Cota/Redesol MG) |
Na época, cinco catadores passaram por um processo de capacitação. Eles ficaram responsáveis por multiplicar o conhecimento para o restante do grupo. “Quando a gente veio pra cá, não sabíamos nada da separação. Algumas pessoas do galpão foram para a Asmare para aprender o processo de triagem e prensa. Eles nos ensinaram a trabalhar com os materiais recicláveis. No primeiro momento, achamos que era coisa de outro mundo, mas depois vimos que não”, revelou a catadora Marli dos Santos Miguel.
Inclusão social e empoderamento
Foto: Diego Cota/Redesol MG |
Por ser exercido geralmente por pessoas de baixa renda, o trabalho dos catadores é uma importante ferramenta de inclusão social, por meio da atividade laboral. Nos diversos empreendimentos filiados à Redesol MG, a história se repete, com exemplos de superação e empoderamento feminino. A cooperativa, além de ser fonte de renda, proporciona também o desenvolvimento pessoal do catador, como é o caso de Elis Regina.
“Através da Coopersoli eu consegui sustentar meus filhos, comprar presente para eles e leva-los para passear. Passei a ter dinheiro para arrumar as unhas e fazer o cabelo. Aqui dentro, respeitar, acreditar e confiar foram coisas que aprendi. Posso dizer que saí da barriga da minha mãe, mas também saí da barriga da Coopersoli”, revelou a catadora ao falar da transformação que teve, por meio do trabalho.
Fazer parte de um grupo solidário proporcionou às trabalhadoras a possibilidade de conciliar a atividade com a maternidade, devido à flexibilidade de horário, algo que é difícil de ser conseguido no mercado de trabalho convencional. “Aqui na Cooperativa, no início, quem podia trabalhar de manhã, vinha de manhã, e quem podia trabalhar a tarde, vinha a tarde, por conta das crianças. Não é todo lugar que aceitaria nós trabalhando daquele jeito”, disse Elis Regina.
Sustentabilidade
O trabalho do catador também é forte aliado do desenvolvimento sustentável e uma parte essencial da economia circular. Para a catadora Silvana, sua atividade tem potencial de afetar positivamente várias pessoas. “Além de eu estar contribuindo comigo mesmo proporcionando vida digna, estou contribuindo com muitas outras vidas, na questão ambiental. Esse trabalho eu faço com orgulho”, apontou.