31 de maio de 2021

Retomada das atividades da Ascacon mostra resiliência dos catadores de Congonhas/MG

Novo galpão está localizado na BR-040, Km 608, Bairro Campo das Flores, Galpão 5 (Fotos: Divulgação/Ascacon)

Estamos de volta! Com essas palavras, a Associação dos Catadores de Papeis e Materiais Recicláveis de Congonhas (Ascacon), filiada da Redesol, comunicou em sua rede social, no fim de abril, seu retorno à atividade de coleta e triagem, agora em um novo endereço, na cidade localizada na Região Central do estado. Os meses anteriores à essa conquista foram difíceis para os trabalhadores. Em 2020, o contrato de prestação de serviços com a Prefeitura de Congonhas foi rompido, de forma unilateral, pela gestão que até então ocupava a cadeira do executivo local.

Sem a possibilidade de negociação, a associação teve que encerrar suas atividades na Usina de Triagem do município e dar espaço para a empresa privada contratada pela prefeitura. A decisão, que veio de forma repentina, desmobilizou o grupo de catadores. De acordo com a catadora presidente da Ascacon, Vilma Rodrigues Claudio, na ocasião foi prometida pela administração a contratação de todos os associados pela nova prestadora de serviço, mas não foi o que aconteceu.

“Foi uma situação bem conflituosa. O prefeito foi nos visitar e disse que seria impossível renovar nosso convênio, prometeu que todos seriam contratados pela empresa e que seria melhor para eles e para os associados. Alguns ficaram contentes e outros não, mas na verdade a gente não tinha escolha, porque a decisão da prefeitura já estava tomada”, contou.

Nesse processo, uma parte do grupo foi deixada de fora das contratações. Sem o trabalho antes desenvolvido dentro da Ascacon, alguns catadores se viram obrigados a voltar a coletar de forma avulsa pelas ruas. “Quando a empresa chegou, ela pegou os associados mais novos. Os mais velhos e os do grupo de risco foram deixados de fora. Isso aumentou o número de catadores na rua. Como a Ascacon não tinha galpão naquele momento, não tivemos como dar continuidade”, disse Vilma.

“Meu sentimento foi de muita revolta, de ver que eles estavam enganando pessoas simples. Minha sensação era terrível. O prefeito chegou lá com todo o secretariado, diretoria e mais os advogados. Que chance a gente tinha? Nenhuma”, lamentou Vilma.

Após ficar sem o local para desenvolver o trabalho, a gestão da Ascacon começou a providenciar a retomada das atividades. O primeiro passo foi regularizar a associação. “Nós precisávamos de nos documentar novamente, porque, como estávamos em uma propriedade da prefeitura, a gente não pôde fazer as licenças, porque lá já havia esse pedido. Até a gente colocar o pé no chão e conseguir um galpão adequado, demorou uns seis meses. Como saímos de lá e não tínhamos onde deixar nossas máquinas, alugamos por três meses para a empresa que chegou. Depois tivemos que entrar na justiça por mais seis meses, porque ela não queria nos devolver. Isso nos atrasou muito”, explicou a presidente.

A força e a gestão organizada das catadoras foram essenciais para a continuidade da associação e posterior volta ao funcionamento. “O que possibilitou nossa retomada foi a garra das pessoas que ficaram. Também pelos nossos parceiros, como a Vale que estava lá para nos apoiar, os bancos que estão com a gente e o fato de ter tido uma boa administração financeira. Fizemos o pagamento de todos e conseguimos deixar um fundo. Foi ele que manteve a associação até hoje, quando conseguimos voltar a produzir e vender nossas cargas”, contou.

São quase duas décadas de trabalhos prestados em Congonhas

“A gente sempre diz que a Ascacon não é apenas reciclagem, ela trabalha com artesanato, projetos sociais, educação ambiental. São 18 anos de associação de sucesso na cidade. Foram seis anos de convênio com a prefeitura. Quando ninguém queria trabalhar na Usina de Triagem, a Ascacon estava lá, e agora que ela funciona, foi contratada uma empresa. Essa foi uma das motivações de a gente não deixar a associação acabar”, destacou Vilma.

Atual estrutura


A Ascacon, fundada em 2003, hoje conta com todos os equipamentos necessários para a triagem de materiais, inclusive do vidro e do papel. Toda a estrutura está estabelecida e as licenças para exercer a atividade estão em dia. Como a coleta seletiva municipal ficou sob responsabilidade da empresa contratada pela Prefeitura, o material que chega no galpão da associação vem das empresas parceiras e de algumas residências.

A presidente Vilma espera que em pouco tempo possa trazer de volta os trabalhadores que hoje estão coletando nas ruas. “Ainda não conseguimos trazer eles de volta porque nosso volume é pouco. Precisamos receber mais materiais para isso. Cada dia têm aparecido mais parceiros. Acredito que em breve vamos poder trazer de volta esses catadores”, disse.

Com a atual gestão, a associação mantém um bom relacionamento. Juntos estão planejando um projeto de educação ambiental nas escolas e nos bairros, além de oficinas de artesanato que, dependendo da situação da pandemia, podem acontecer de forma presencial ou online.

Seja parceiro da Ascacon


Para contribuir com as catadoras, o morador de Congonhas pode separar e destinar o seu reciclável para a associação, além de mobilizar os amigos e pessoas próximas para fazerem o mesmo. “Quando falamos em doar os materiais para a Ascacon, estamos falando em algo social, em economia solidária. Então, a população pode mobilizar os amigos e associações de bairro que nós estaremos lá para fazer a coleta dos recicláveis”, recomendou.

A Ascacon está localizada na BR-040, Km 608, Bairro Campo das Flores, Galpão 5, Congonhas – MG.